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Trauma: definição e enquadramento geral

Fala-se muito de Trauma, mas teremos nós realmente a ideia do que é Trauma quando falamos de experiências de infância? Será que o Trauma só acontece naqueles que sofreram abusos? Ou que outras experiências na infância podem gerar Trauma? Existem pessoas que estão traumatizadas e outras não, ou estaremos todos dentro de uma espécie de espectro do Trauma? Quais os sintomas do Trauma e como se manifesta na nossas vidas e relações? E qual a relação do Trauma Individual com o Trauma Coletivo? Este vídeo trará as respostas e demais reflexões sobre o tema.



Trauma - A Fragmentação do Self (Marisa Revez Mendes, Do Abuso Sexual ao Poder Pessoal®
Trauma - A Fragmentação do Self

Então o que é o Trauma?


De acordo com o Dr. Gabor Maté, “Trauma não é o que lhe acontece a ti, mas o que acontece dentro de ti”. Imaginando um acidente de automóvel em que alguém sofre um conjunto de graves lesões físicas: o acidente é o evento que causou as lesões; as lesões são o que perduram e que irão necessitar de reabilitação e cura. A vantagem desta constatação é que se o Trauma fosse o evento, nada poderíamos fazer acerca, porque é impossível mudar o passado; mas é possível curar as feridas decorrentes desse evento. Por isso a palavra Trauma define então uma ferida/lesão interior (psíquica e emocional), provocada por eventos causadores de sofrimento, que representa na prática uma ruptura no Self (Eu), infligida no sistema nervoso, na mente e no corpo, que dura muito além do incidente (ou incidentes) que a originou e que pode ser despertada a qualquer momento.


Quando uma ferida não sara sozinha, acontece uma de duas coisas: fica em carne viva ou exposta, ou o que é mais habitual, é substituída por uma camada mais espessa de tecido cicatrizado. Como ferida aberta, é uma fonte constante de dor e um lugar onde podemos ser repetidamente magoados, até pelo menor dos estímulos. Obriga-nos a uma vigilância permanente - sempre a cuidar da ferida, literalmente - e limita a nossa capacidade para agirmos de maneira flexível e confiante, com medo de voltarmos a ser magoados. Por outro lado, a cicatriz protege e mantém unidos os tecidos, mas tem os seus contras: é rígida, dura, inflexível, incapaz de crescer, uma zona de dormência. Seja uma ferida aberta ou uma cicatriz, o trauma não resolvido é uma constrição do Eu, física, emocional e psicológica. Restringe as capacidades naturais e gera uma distorção continuada da visão que temos do mundo e dos outros. O trauma, até o resolvermos, mantém-nos presos no passado, rouba-nos a riqueza do momento presente e limita quem podemos ser. Constitui uma barreira ao desenvolvimento, pela fragmentação do Self tolda o sentimento do nosso próprio valor, envenena as relações e diminui o desfrute da vida. Pode até interferir com um desenvolvimento saudável do cérebro se o trauma decorre de eventos da infância. Além de tudo isto, o trauma é um antecedente e um contributo para doenças de todo o género ao longo da vida. No seu conjunto, estes impactos representam, para muitas e muitas pessoas, um impedimento importante e básico ao desenvolvimento.


“O trauma é talvez a causa de sofrimento humano mais evitada, ignorada, minimizada, negada, incompreendida e não tratada.” Peter Levine



A realidade é que alguém sem marcas de trauma seria uma pessoa estranha na sociedade. Estamos mais perto da verdade ao perguntar: no espectro amplo e inclusivo do trauma, onde é que cada um de nós encaixa?


Vamos considerar o Espectro do Trauma: desde Trauma Evidente a Trauma Subtil.


Um Trauma Evidente envolve reações automáticas e adaptações mente--corpo a acontecimentos dolorosos e esmagadores específicos e identificáveis, ocorridos na infância ou mais tarde. Este tipo de lesões, muito mais comuns do que é geralmente reconhecido, dão origem a sintomas e síndromes múltiplos e a estados diagnosticados como patologias, físicas ou mentais, estando subjacente a muito daquilo que é catalogado como doenças mentais. Também cria uma predisposição para a doença física, por um stress crónico que gera inflamações, prejudica o funcionamento saudável dos sistemas e propicia um ambiente nefasto para genes com codificação de doenças serem ativados, entre muitos outros mecanismos de desequilíbrio fisiológico.


Resumindo: o Trauma Evidente dá-se quando acontece a pessoas vulneráveis coisas que não deviam ter acontecido - como seja um abusos sexuais, violência familiar, um divórcio cheio de drama e vingança, a perda do pai ou da mãe numa idade precoce e imprevisível, uma catástrofe natural devastadora, a guerra.


Mas há um trauma quase universal na sociedade - o Trauma Subtil, a lesão duradoura que acontecimentos aparentemente banais podem deixar na psique das crianças: bullying, críticas casuais mas repetidas de um pai ou de uma mãe bem intencionado, uma insuficiente ligação emocional aos pais demasiado ocupados com os seus afazeres, a falta harmonia emocional no contexto familiar, sensação de ser ignorado ou não aceite até por pais carinhosos, etc. O trauma deste tipo não exige uma perturbação aberta ou uma infelicidade decorrente de um evento evidente,  tem mais a ver com aquilo que precisaríamos ter recebido mas não aconteceu, e que pode conduzir igualmente à dor de ficar desligado de si.


Embora haja diferenças dramáticas na maneira como os dois tipos de trauma podem afetar a vida e o funcionamento dos indivíduos, sendo o Trauma Evidente, em geral, muito mais profundo, impactante, perturbador e incapacitante, também há grandes áreas de sobreposição. Ambos representam uma fratura do eu e da sua relação com o mundo, a Fragmentação do Self que é a essência de qualquer trauma: “uma perda de ligação - connosco, com a família e com o mundo que nos rodeia. Essa perda é difícil de reconhecer, porque se dá lentamente, ao longo do tempo. Adaptamo-nos a estas mudanças subtis; às vezes sem reparar nelas.” (Peter Lavine). Quando a ligação perdida é interiorizada, ela molda a visão que temos da realidade: passamos a acreditar no mundo que vemos através da sua lente estilhaçada. Portanto, a maneira como nos vemos a nós próprios, aos outros e ao mundo bem como o comportamento que temos em resposta, os aspetos menos e mais funcionais - são em parte, o resultado do trauma.


Para muitos, pode também ser desconcertante considerar que, por felizes e ajustados que pensemos ser, e por mais feliz que tenha sido aparentemente a nossa infância, nos encontremos em algum ponto do espetro do trauma, mesmo que longe do polo do Trauma Evidente.


Com quem falaste quando te sentiste mal em criança? A verdade dos factos é: quando a dor está lá e não há ninguém com quem a partilhar, a criança tem recursos muito limitados para lidar com isso e é por isso que desconecta-se de si mesma, para sentir menos dor. É uma forma de auto-preservação automática através do auto-“anestesiamento”. Ao se desconectar de si mesma, a criança perdeu-se de si mesma, do seu verdadeiro Self, que representa a sua Autenticidade. Em suma. para o Trauma acontecer, não é preciso acontecer a terceira guerra mundial, ou racismo, não é preciso genocídio ou privações de guerra, abusos ou qualquer forma de violência. Só são necessários pais que estavam alienados dos seus sentimentos instintivos, e por isso alienados da criança que está desesperada por uma relação. “As crianças não ficam traumatizadas porque foram magoadas. As crianças ficam traumatizadas porque estão sozinhas na sua dor” (Gabor Mate, A Sabedoria do Trauma).


Importa ainda referir que, na maior parte dos casos, o Trauma é transgeracional. Ou seja, ele começou muito antes de nós e da nossa existência física. A cadeia de transmissão vai de pais para filhos e estende-se do passado ao futuro. Passamos à descendência aquilo que não resolvemos em nós. O lar torna-se um lugar onde, sem querer, recriamos, cenários reminiscentes do que nos feriu quando éramos pequenos. A culpa torna-se um conceito por isso sem sentido a partir do momento em que se percebe como o sofrimento no sistema familiar ou até numa comunidade tem raízes gerações atrás. ‘Reconhecer isto elimina rapidamente qualquer disposição para olhar para os pais como vilões’ (John Bolwby). Por muito para trás que olhamos na cadeia de consequência - bisavós, antepassados, Adão e Eva, a primeira célula - o dedo acusador é incapaz de encontrar um alvo fixo. Por isso, mais do que culpabilizar, o fundamental é olhar o trauma como uma dinâmica interna que confere-nos uma necessidade desesperada de controlo. Se tratarmos o trauma como acontecimento externo através do culpado e do evento, alimentamos a vibração de “vitima”. Mesmo que de um ponto de vista factual, social, ético, jurídico até, sejamos efectivamente vítimas de um acontecimento que nos gerou trauma, há um momento que precisamos largar este lugar que nos mantém reféns do trauma, e despertar o sentido de, se o trauma agora é uma dinâmica interna, eu sou o único responsável por o resolver. É fundamental por isso largar a identificação ao Trauma que gera a atitude de desafio, cinismo ou pena de si mesmo, e focar a oportunidade de cura, já que, por definição o trauma constitui uma distorção e limitação de quem nascemos para Ser. Enfrentá-lo diretamente, sem negação nem identificação excessiva, torna-se uma passagem para a saúde para o equilíbrio. E não necessariamente a cura passa por anos de terapia; podemos ganhar acesso à libertação mesmo por meio de uma autoavaliação e um conjunto de medidas de auto liderança, uma disponibilidade para questionar muitas das narrativas absolutas a que nos agarrámos e que acreditamos ser a realidade inquestionável.




O Dilema do Trauma: o que acontece se as nossas necessidades de apego forem postas em perigo pela nossa autenticidade? - este é O choque trágico entre duas necessidades essenciais: Apego e Autenticidade


O apego, ou vinculação é o impulso para a proximidade com outras pessoas, no sentido físico e emocional. O seu objetivo primário é facilitar que prestemos cuidados ou que alguém cuide de nós. A necessidade de apego é obrigatória em especial para o bebé humano - que quando nasce é um dos animais mais imaturos, dependentes e indefesos e que permanece nesta fase por um período que é de longe o maior em comparação com outras espécies. Tudo, o que um bebé faz (chorar, fazer gracinhas, etc.) é um comportamento incorporado de origem, desenhado pela natureza para manter a atenção e a dedicação dos cuidadores. Mas a necessidade de apego continua a motivar-nos pela vida adulta e por isso as vinculações insatisfatórias podem lançar o caos mesmo na fisiologia adulta. As nossas primeiras relações de vinculação constituem o molde segundo o qual iremos moldar também todas as nossas relações importantes, muito depois de termos deixado para trás a fase de sobrevivência. Nomeadamente as relações amorosas, que por definição são as mais semelhantes às relações com os pais.


Por outro lado, temos outra necessidade nuclear que é a autenticidade: a qualidade de ser verdadeiro consigo mesmo e a capacidade para moldar a própria vida a partir de um profundo conhecimento desse Eu. Tal como o apego, é um impulso com raízes em instintos de sobrevivência. No seu aspeto mais concreto e pragmático significa apenas isto: conhecer os instintos quando eles se manifestam e segui-los. Ser autêntico é ser verdadeiro a um sentido de si mesmo que emerge da essência única e genuína de cada um, ligar-se a esse GPS interior e mover-se orientado por ele. Num sentido saudável inclui cuidar de outros mantendo-se fiel a si mesmo mas postura flexível à negociação quando os pontos de vista divergem. A autenticidade dita que nós, e não expetativas impostas do exterior, sejamos os verdadeiros autores da nossa vida - e a autoridade sobre ela.


Para que a tensão trágica entre apego e autenticidade aconteça, basta não sermos vistos ou aceites por aquilo que somos. E ai, das duas uma: ou a criança chega à conclusão de que as pessoas de quem está dependente são incompetentes, maliciosas ou inadequadas para a tarefa, e que está sozinha neste mundo assustador; ou, então, que é ela que tem a culpa. Por dolorosa que esta última explicação seja, ela é de longe preferível à outra, que pinta um quadro ameaçador da própria vida para uma criança ou jovem com poucos recursos emocionais. A primeira opção não é sequer uma opção. É melhor acreditar que “a culpa é minha, sou uma pessoa má” e banhar o meu ser de culpa e vergonha por ser insuficiente, pois isso permite acreditar que há uma hipótese: 'se eu me esforçar muito e for boa pessoa, serei digna e suficiente para ser amada’. (ou seja, até a crença debilitante da falta de valor individual, uma característica quase universal entre todos nós, começa como um mecanismo para lidar com a sensação de desamparo).


Embora as duas necessidades sejam essenciais, têm por isso uma hierarquia: na primeira fase da vida, o apego surge claramente em primeiro lugar. Por isso, quando elas entram em choque na vida de uma criança, o apego e a autenticidade, o desfecho está predeterminado: o imperativo de sobreviver sobrepõe-se a tudo - e essa sobrevivência depende da manutenção do apego, sobre a autenticidade, seja qual for o preço. Por isso, assumir que a Culpa é nossa porque estamos “a ser Insuficientes” para que os cuidadores mantenham a vinculação, garantido a nossa sobrevivência, torna-se mandatário: esforço-me para ser algo que não sou autenticamente para garantir a vinculação. Além da Fragmentação do Self acontecer pelo “anestesiamento” de forma a fazer face à dor do trauma, culpa e vergonha assumidas, também acontece desta necessidade fundamental de abrirmos mão de quem somos e de como sentimos para garantir vinculação pelo amor. E assim, nos afastamos cada vez mais do nosso Verdadeiro Eu, de quem viemos ser, com o nosso Valor, Brilho e Poder Pessoal, até nos esquecer-mos de quem somos. Por muito tempo que passe desde a infância, nunca tiramos o equipamento de proteção - a “máscara” ou persona do Ego criada para garantir controlo e apego, que torna-se a nossa pele.


A maioria de nós pode precisar de uma crise de algum tipo antes de colocar em questão a veracidade e a solidez desta persona a partir do qual agimos acreditando que este é o nosso verdadeiro eu, antes de nos ocorrer sequer que possa esconder algo de mais verdadeiro sobre nós. Por isso, o caminho para a cura não é só necessário, como é fundamental e possível - e é sempre possível deixar para trás a culpa e a responsabilização, passar da autoacusação para a curiosidade e da vergonha e medo para a "capacidade de responder” e enfrentar. O princípio da repressão da autenticidade pode não ter sido uma escolha consciente, mas um instinto de sobrevivência inconsciente. Mas, com consciência e autocompaixão, a autenticidade pode ser agora a escolha.




Quando escassez de atenção, amor, valorização e importância leva ao desenvolvimento de uma programação de compensação…


É importante perceber que muitos dos traços de personalidade que passamos a considerar como Eu, e de que talvez até nos orgulhemos, carregam na verdade as cicatrizes daquele ponto, muito distante, em que perdemos a ligação connosco. A “persona” trouxe-nos compensações pelos danos do trauma e são olhadas como normais e até como dignas de admiração, valorizadas como ‘pontos fortes’ que envolveram e isolaram o Eu autêntico, disfarçando-se dele. Estas características e os comportamentos que lhes estão inerentes são “uma dependência de fuga”. Tal com uma sensação de euforia de um dependente logo depois de consumir, o alívio que alcançamos com as nossas pseudoforças compensatórias não perdura: ansiamos por mais e mais, repetidamente. A maior parte das substâncias químicas libertadas no cérebro quando temos momentos em que nos sentimos amados, valorizados ou aceites funcionam como se fossem opióides interiores, ou endorfinas. E, do mesmo modo que um opiáceo como a heroína não sacia, também a libertação de endorfinas resultante de valorização, aprovação, cumprimento ou sucesso não pode possivelmente resolver as dores da alma. Somos obrigados a continuar à procura dessas fontes exteriores de alívio passageiro, e quando a emoção passa temos de ir outra vez em busca delas. A maioria de nós pode precisar de uma crise de algum tipo antes de colocar em causa a veracidade e a solidez deste autoconceito a partir do qual agimos, antes de nos ocorrer sequer que possa esconder algo mais verdadeiro sobre nós.


Eis alguns exemplos de Tipo de Ferida (originada por escassez na Infância) Vs Traço de Personalidade (desenvolvido por compensação):

  • Falta de Atenção Incondicional e Desinteressada > Preocupação com atributos físicos (ou psicológicos) ou em realizações que captem a atenção;

  • Falta de sentir-se Digna para ser Amado, de forma Consciente e Incondicional > Crescer para ser Simpático ou Encantador além do que é natural;

  • Falta de Valorização ou Reconhecimento por quem É > Desenvolve "apetite" desmesurado por Estatuto e Riqueza;

  • Falta de sentir-se Importante apenas pelo que É > Procura um sentido para ser Importante, tornando-se Cuidador Compulsivo




Por isso, o Trauma está no cerne dos Vícios: DROGA, ÁLCOOL, NICOTINA, SEXO, APOSTAS, COMPRAS, COMIDA, AÇÚCAR, PORNOGRAFIA, INTERNET, JOGO, TRABALHO, RELAÇÕES (EFEITO NOVIDADE DA PAIXÃO), LIMPEZAS, ACUMULAÇÃO DE OBJECTOS, ORGANIZAÇÃO, TAREFAS, ACTIVIDADES, AUTO-IMAGEM, SÉRIES, REDES SOCIAIS, ETC


“Vício é qualquer comportamento que uma pessoa deseja e no qual encontra alívio no curto prazo, mas sofre consequências negativas, sendo incapaz de desistir.” (Gabor Maté, A Sabedoria do Trauma)


A primeira questão não deve ser o porquê do vício mas o porquê da dor. Na nossa sociedade, existem dois mitos sobre o vício: o mito perverso de que o vício é uma escolha que as decisões que derivam dos vícios são portanto uma questão de capacidade individual; o outro mito é que se trata de uma doença herdada, um distúrbio biológico do cérebro.


O vício está entre as respostas humanas ao trauma. Quando as pessoas estão a sofrer querem escapar ao sofrimento. A sociedade não compreende o vício. Sem o vício, sentem-se incompletos, sentem um enorme vazio no interior. Então o vício é para se complementarem e, de alguma forma, cobrir temporariamente o vazio. As pessoas que são viciadas em algo, estão tão desesperadas por fugir da realidade porque a realidade foi cruel com elas.


Liberdade, emoção, motivação, prazer, autoestima momentânea, são exemplos de sensações agradáveis que o vício proporciona momentaneamente. Se compreendermos que o vício não é o problema principal mas sim uma resposta ao trauma, então torna-se óbvio que para curar o vício, tem de se ir ao trauma. Isso significa ver a ferida que está a conduzir essa pessoa ao vício.


“Por trás dessa pessoa traumatizada, há um indivíduo saudável que nunca encontrou expressão nesta vida porque nunca lhe foi dado o local de expressão, nunca lhe foram dadas as relações em que a sua autêntica humanidade poderia ser expressada.” (Gabor Maté, A Sabedoria do Trauma).




ASSIM, PORQUE Manter um colectivo no espectro do trauma é conveniente de um ponto de vista politico? Na busca desesperada pela activação do circuito neurológico do Prazer, o colectivo consome em larga escala estimulando a economia global.


“AQUILO QUE O SISTEMA VENDE COMO FELICIDADE É EFETIVAMENTE PRAZER - uma distinção filosófica e económica que faz toda a diferença entre lucro e prejuízo. O prazer, observou Rob Lustig, é ‘Isto sabe bem. Quero mais.’ Já a felicidade é ‘Isto sabe bem. Estou contente. Estou completo. ESTOU SATISFEITO’ Isto encaixa perfeitamente no meu entendimento das dependências e da química do cérebro.


Embora de alguma forma semelhantes, prazer e felicidade são alimentados por combustíveis neuroquímicos diferentes: o prazer usa dopamina e opioides, que funcionam ambos por picos momentâneos, ao passo que o contentamento assenta no aparelho de serotonina, mais estável e de libertação prolongada.


É muito difícil ficar dependente de substâncias ou comportamento serotoninÉrgicos. No entanto, todas as dependências tomam conta dos sistemas cerebrais de dopamina (incentivo/motivação) e/ou opiode (prazer/recompensa). Na ausência de felicidade, o prazer, e em especial quando é procurado como gratificação instantânea, pode ser viciante - logo, lucrativo.


Este assalto à mente para induzir dependências em massa enfraquece o livre-arbítrio de uma forma direta - e quero dizer em termos neuroquímicos. De forma intencional, é abafado o poder do córtex pré-frontal para controlar as vontades, enquanto é excitada a capacidade dos circuitos emocionais inferiores para subverter o pensamento racional. É um exemplo aterrador de como o materialismo descontrolado do mercado livre tomou de assalto a ciência da neurofisiologia para desregular o cérebro, da mesma maneira que ‘desregula’ os mercados financeiros.


A neurociência, que originalmente visava desvendar os mistérios da consciência e do cérebro, tornou-se mais focada à causa do lucro, surgindo assim o neuromarketing - uma invasão estratégica da consciência humana, conscientemente dirigida para a hiperativação e agitação constante das funções de dopamina/endorfina do cérebro… onde o Trauma, seja Evidente ou Subtil, está na origem.



Resumindo, neste video falámos de:

Definição do Trauma como lesão psíquica e emocional derivada de um evento, ou da insatisfação de alguma necessidade de vinculação e afecto enquanto crianças;

Todos estamos dentro do Espectro do Trauma - desce Trauma Evidente ao Trauma Subtil - logo colectivamente somos uma humanidade traumatizada;

A Fragmentação do Self como principal característica do Trauma (Desconexão ao Verdadeiro Eu/Autenticidade/GPS Interior), quer seja por auto preservação à dor do trauma (desligamento/repressão emocional), ou por garantir amor e apego;

Todos carregamos a culpa e vergonha provenientes de Traumas Subtis (o que nos faltou) de uma responsabilização que nos auto dirigimos, que está na origem da crença quase universal “sou insuficiente” (para ser amado, considerado, cuidado, visto, respeitado);

Mais do que olhar para fora e identificarmos culpados (no caso dos nossos pais, o trauma transgeracional desconstroi essa ideia), é fundamental reconhecer, enfrentar e curar o trauma, largando assim comportamentos desfuncionais, provenientes de narrativas e crenças limitadoras,  mecanismos de compensação dos vazios emocionais, e assim voltar a “colar” o Verdadeiro Self ao seu Brilho, Valor e Poder Pessoal; fisionomicamente, o corpo agradece pois grande parte das doenças crónicas, se não todas de acordo com estudos feitos, tem origem na existência de traumas por curar.



Este artigo foi uma abordagem geral a conceitos gerais sobre Trauma. No próximo vídeo irei entrar mais profundamente no tema e falar-vos da Perturbação de Stress Pós Traumática Complexa e da Experiência de Negligência Emocional na Infância.

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